Uma saudação exigente ao governo de Portugal

O movimento Cidadãos por Coimbra dá as boas vindas ao governo, na sua visita a Coimbra, e saúda a realização de um Conselho de Ministros na cidade. Espera-se que esta vinda a Coimbra simbolize da melhor forma o compromisso da governação com um país articulado e com uma cidade relevantíssima para a realização destes objetivos.
Em particular, o CpC espera que o governo demonstre que tem consciência de que a única cidade com mais de cem mil habitantes fora das áreas metropolitanas ou das suas zonas de influência e o único sistema urbano que estrutura autonomamente, num mesmo território, a vida de mais de 400 mil pessoas é, tem de ser, um sujeito importante das políticas públicas em Portugal. Espera-se que o governo demonstre que sabe que as políticas de desenvolvimento do país, a organização e o ordenamento do território, são matéria que compete ao próprio governo e às políticas que realiza, através de projetos muito concretos. O território nacional, o seu sistema urbano e o papel de cidades importantes não pode ficar apenas nas mãos de vagas políticas de descentralização, numa espécie de lavagem de mãos demissionista do poder central.
Não é a hora de relembrar todas as injustiças públicas a que Coimbra tem sido sujeita. Não é também a hora de relembrar os muitos problemas que Coimbra tem. Mas é a hora de lembrar que Coimbra é também muito importante para o país. É a hora de dizer que, sem políticas públicas claras, generosas e conscientes de desenvolvimento urbano capaz de dar qualidade às ambições do país, pode haver um país bicéfalo, concentrado em metrópoles em processo de degradação das suas economias, dependentes do turismo, mas não haverá um país desenvolvido. Sem Coimbra a desenvolver-se não haverá um país capaz.
Damos as boas vindas ao governo e saudamo-lo. Mas pedimos que não nos decepcione e não nos deixe zangados.
As reivindicações de Coimbra são muitas – ligação a Viseu em autoestrada, continuação da A13, novo palácio da justiça, nova penitenciária, financiamento dos transportes públicos tal como em Lisboa e no Porto, nova estação ferroviária multimodal, recuperação e uso do convento de Santa Clara-a-Nova, intervenção de qualidade no rio e na sua ligação com a baixa, assim como no Choupal e em Vale de Canas. E há um projeto que pode simbolizar o modo como se olha para Coimbra e para a sua região. Ele representa o valor que se dá ao objetivo de servir bem equipamentos nacionais como os vários hospitais e a universidade, de encarar com coragem a regeneração urbana de um centro histórico cheio de dificuldades, de dar atenção a outros meios urbanos próximos onde os cidadãos que trabalham em Coimbra escolheram viver. Representa, em suma, o valor que se dá a Coimbra como cidade indispensável ao país.
Esse projeto é o do Metro Ligeiro de Superfície, em via dedicada e com tração elétrica, com uma linha urbana que una as estações ferroviária e rodoviária, a baixa da cidade, hospitais e campus universitários, e outra linha que sirva zonas residenciais da cidade e os que vivem em Miranda do Corvo e na Lousã. E com um projeto de inserção na malha mais antiga da cidade que a qualifique e não a use de forma brutal.
Não será aceitável que o governo não fale claro sobre este projeto e será ofensivo para a cidade que o remeta, como outros fizeram, para obscuros estudos, demitindo-se da sua condição de decisor público e achando que a política de desenvolvimento do país é um assunto de uma tecnocracia que funciona com linguagens simplistas.
O movimento Cidadãos por Coimbra confia nas decisões que o governo venha a tomar mas declara-lhe também a sua exigência em nome de Coimbra. COIMBRA MERECE!
Coimbra, 14 de Setembro de 2016
A Direcção do CPC