A cidade e o rio: H₂O ou ‘a margem da alegria’

Coimbra 2030: pensar o futuro, fazer a cidade

A cidade e o rio: H₂O ou a margem da alegria

A boa governação da cidade depende em boa medida da vontade e da capacidade de compreender os diferentes modos como os cidadãos incorporam no seu viver quotidiano impressões de natureza social e cultural associados aos lugares concretos que habitam, atravessam ou simplesmente evitam. A cidade concreta faz-se desses modos concretos de viver e também das representações simbólicas que neles se vão sedimentando. É por isso que uma cidade nunca é somente a cidade-presente, mas incorpora simultaneamente a cidade-memória dos passados nela construídos e a cidade-desejo dos futuros que nela se projetam.

Uma cidade-apenas-memória arrisca-se a que a cidade de ontem lhe tolha o presente, e uma cidade-apenas-futuro expõe-se ao perigo de se perder em devaneios irrealizáveis. A memória do passado tem por isso que ser colocada ao serviço de um futuro rasgado pela incisão do sonho. Destas camadas temporais e da sua presença em cada momento da história se constrói a cidade-palimpsesto.

É conhecida a importância do Mondego no imaginário de Coimbra. Nele confluem rastos históricos e representações simbólicas determinantes na constituição da identidade da cidade. Apesar, porém, da sua força, o rio que atravessa a cidade é também vulnerável. As suas águas e margens constituem um bem público de enorme riqueza e como tal deve ser tratado e usufruído, não como uma terra-de-ninguém ou um simples espaço-mercadoria à mercê de uma sequiosa especulação imobiliária, mas como um bem comum, de todos e para todos, acessível a todos e por todos partilhado, um lugar de socialização, convivência e exercício de cidadania.

O rio, como qualquer espaço público da cidade, nunca pode ser um não-lugar.

As suas águas devem unir e não separar as duas margens. A margem esquerda tem que ser tão cidade como a margem direita. De um lado e do outro é a mesma ideia de cidade que se vive, se pensa, se imagina e se deseja.

Cada margem só pode ser, para a cidade, a margem da alegria.

Abílio Hernandez

O debate, que vai ter intervenções de Carlos Fortuna, Fernanda Cravidão, Helena Freitas, Pedro Bingre do Amaral e João Paulo Dias (moderador), decorrerá a bordo do Basófias, na noite de 23 de Fevereiro, segunda-feira.

[devido à lotação limitada, os interessados em participar têm de inscrever-se previamente para o e-mail cidadaos.coimbra@gmail.com, e aguardar confirmação]

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