Isabel Prata: Coimbra, Capital Europeia da Cultura 2027

#Isabel Prata
E não, não estou a delirar: Coimbra, Capital Europeia da Cultura 2027, porque não?
O Professor Carlos Fortuna dizia ontem na primeira sessão do ciclo“COIMBRA 2030. PENSAR O FUTURO | FAZER A CIDADE” que o futuro de Coimbra está na nossa cabeça, em cada um de nós, que cada um de nós se pergunte, o que posso eu fazer pelo futuro de Coimbra? E se não disse exactamente isto, que me perdoe, mas acho que não atraiçoo o tom.
Gosto muito daquela música dos Deolinda que diz, Agora não, que é hora do almoço… Agora não, que é hora do jantar… Agora não, que eu acho que não posso…
Há sempre uma boa desculpa para se ser preguiçoso:
Agora não, que Portugal é Lisboa e o resto…
Agora não, que o governo central nos ostraciza.
Agora não, com esta crise.
Agora não, que a Europa já não nos dá subsídios.
Agora não, que Coimbra B é uma vergonha.
E se é tudo verdade, é por tudo isso que não devemos baixar os braços. Mas… e então? e a tal capital europeia…?
Coimbra 2027, o exemplo de Guimarães:
Guimarães é uma cidade pequena se comparada com Coimbra: tem cerca de um terço da população de Coimbra. A região de Guimarães- Vale do Ave, região em que o sector secundário tem uma importância vital, tem sido dizimada desde há longos anos pela falência diária das suas indústrias, com todo o empobrecimento que acarreta. Tem uma pequena estação ferroviária com ligações ao Porto de hora a hora (uma viagem que demora quase 90 minutos!) e uma vez por dia a Lisboa (fica muito longe de Lisboa). Não tem uma capacidade hoteleira fantástica. Tem um centro histórico lindo, bem cuidado, património da humanidade. Tem o Vila Flor, mas Coimbra também terá o S. Francisco, assim haja vontade. Não tem uma universidade com quase oito séculos, não tem um rio. E Guimarães foi capital europeia da cultura em 2012. E foi um sucesso.
Por razões que não vêm ao caso, fui a Guimarães quase todas as semanas desse ano e verifiquei que: 1) saltava imediatamente à vista o modo extraordinário como a população abraçou aquela causa, a felicidade da escolha do mote “tu fazes parte”; e foi verdade, cada um dos cidadãos de Guimarães fez parte, para mim a principal razão do sucesso da iniciativa; 2) não fizeram grandes obras, não paralisaram a cidade num estaleiro durante anos, arranjaram o Toural e algumas ruas à volta, recuperaram o mercado para as artes e pouco mais; 3) não trouxeram a Filarmónica de Berlim nem o Damien Hirst, mas encheram a cidade de música, de teatro, de exposições, de espectáculos de rua, com muita qualidade. E trouxeram às ruas muita, muita gente, os locais e os outros. Os hotéis estiveram sempre esgotados, os comboios do Porto (os tais que saem duma estação pequenina e demoram 90 minutos a fazer o percurso) andaram sempre cheios, o galego ouviu-se tanto como a pronúncia do norte. E converteram uma população tantas vezes deprimida, e com tantas razões para isso, em habitantes orgulhosos da sua pertença, “tu fazes parte”.
Porque é que tudo funcionou tão bem em Guimarães? Porque houve vontade, porque houve muitas vontades, de que isso acontecesse. A vontade de fazer e de fazer bem. A vontade de fazer bem que tem permitido uma recuperação e uma manutenção exemplares do seu centro histórico. A vontade de envolver toda uma população num desígnio de felicidade.
Coimbra tem pelo menos tantas condições como Guimarães para ser uma Capital Europeia da Cultura de sucesso. Haja vontades. De cantar a segunda parte da tal música: Agora sim…
Isabel Prata
Nota: texto escrito a partir de uma ideia que surgiu na iniciativa COIMBRA 2030. PENSAR O FUTURO | FAZER A CIDADE”
Subscrevo inteiramente tanto a ideia lançada para 2027, como este comentário da Isabel Prata. Mas gostaria de acrescentar um detalhe às razões do sucesso aqui expressas. Guimarães soube — e continua a saber, porque em 2013 foi capital europeia do desporto — comunicar bem e com critério. Uma cidade que não seja capaz de o fazer com qualidade e sentido estratégico está condenada.
A Capital europeia da cultura de 2027 já está a ser bem trabalhada por Évora.
É onde, geograficamente, dizem, faz mais sentido depois de Lisboa, Porto e Guimarães.
Ou nos despachamos e começamos já, ou perdemos essa oportunidade.
13 anos já não é muito… Mas ainda com 3 anos de Machado, gênero bloqueador de automóveis, tipo polícia municipal a bloquear pernas… Sobram 10 anos. E nesses 10 anos era ótimo se a UC e a CMC conseguissem trabalhar em conjunto.
É pensar positivo e achar que depois deste corte ao entusiasmo pela cultura com compromisso ainda nos resta energia…
Há que começar a agregar ideias e, sobretudo, pessoas. Depois de recentemente ter ouvido a senhora vereadora da Cultura regozijar-se publicamente, em resposta a uma comentário, com o facto de a câmara ter conseguido por 15 mil euros programar todos fins de semana, é de recear o pior. Daí que seja prudente e aconselhável começar a preparar algo de muito concreto. O trabalho que nos espera é de Hércules, porque embora em Coimbra haja muitos produtores e criadores culturais, a Cultura enquanto notícia e política de desenvolvimento estratégico da cidade nunca foi uma prioridade.
O texto de Isabel Prata contém uma imprecisão quando diz que GMR tem um terço da população de CBR. Segundo os censos de 2011 o concelho de Guimarães tem uma população de 158.124 habitantes,ao passo que o concelho de Coimbra conta com 143.396 hab; é só conferir junto do INE ou da Pordata.
Obrigada, Ricardo. Numa pesquisa rápida aqui http://pt.wikipedia.org/wiki/Guimar%C3%A3es (que me parece fidedigna e actualizada) eu comparei a população da cidade de Guimarães com a do concelho de Coimbra. Erro meu, fruto da velocidade a que nos habituámos com a internet. Eu conheço muito bem o concelho de Guimarães (tenho lá parte da minha família) com uma população muito mais espalhada pelas freguesias peri-urbanas do que a de Coimbra. Penso que o meu raciocínio se mantém qualitativamente válido em termos de comparação das duas cidades.
Concordo com o texto da Isabel Prata e subscrevo a ideia, o meu aplauso para o desafio!
O que é preciso mesmo é vencer a apatia, envolver a comunidade, puxar a cidade para a frente…os recursos humanos são tão ou mais importantes que os recursos financeiros. As populaçoes precisam de mostrar aos governantes que estao atentas, é por isso que eu gosto do grupo independente Cidadãos Por Coimbra.
O Mosteiro de Santa Marinha da Costa, em Guimarães -hoje pousada de Portugal – foi Universidade Renascentista entre 1537 e 1550. Guimarães tem a Universidade do Minho – polo de Azurém, a Escola Superior Artística do Porto e o AveParque. O rio Ave percorre o concelho de Guimarães. A viagem por ferrovia Guimarães-Porto demora 75 minutos.O Porto dista cerca de 55 Km de Guimarães e pela autoestrada 7 chega-se ao Porto em menos de uma hora . Guimarães dista de Lisboa 365 Km e por AE demora cerca de três horas e meia. Quanto à capacidade hoteleira não há nada melhor do que vir a Guimarães e ver. O mosteiro de Santa Marinha da Costa é uma das melhores pousadas de Portugal.
Ricardo, o meu texto não pretendia apelar a nenhum bairrismo, tão só ir buscar o exemplo inspirador de Guimarães de que o que mais importa são as pessoas e as vontades. Já agora, o comboio que sai de Guimarães às 17.12 chega a s. Bento as 18.35 – 83 minutos 🙂
Universidade das Nações Unidas vai instalar-se em Guimarães.
Ver aqui : http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=58610&op=all
Acho muito bem a ideia de 2027, mas parece-me que o raciocínio nem sequer existe se não se cumprirem meia dúzia de objectivos muito imediatos. Guimarães 2012 tornou-se possível porque houve um investimento consequente que começou bem mais de 12 anos antes, como propões agora, Isabel. Começou porque a cidade e a sua região estavam em perda de dinâmica económica, tout court, porque a indústria que lá se desenvolvia, que cruzava domínios de industrialização intensiva com outros, mais numerosos, que dependiam muito da sub-contratação e da economia familiar, estava em crise profunda. A aposta na recuperação do casco histórico e na sua classificação filiou-se muito claramente numa ideia de nova urbanidade que incluia as artes e a cultura como factor de recaracterização da cidade. O CCVF abriu em 2005, mas já era herdeiro de uma acção municipal na área da criação e da difusão artísticas que vinha bem de trás. E que não creio que tenha sido iniciada com o objectivo de vir a ser CEC. O facto é que o CCVF se impôs logo desde a abertura como um dos centros culturais relevantes no país porque foi alvo de um investimento importante em programação e estruturação técnica e administrativa. E que, com toda a evidência, Guimarães está a resistir ao pós-CEC bem melhor do que aconteceu no Porto.
Ou seja, se Coimbra não desejar já, já, ser um centro cultural importante no país, apostar de uma outra forma nos criadores locais, assumir uma vocação nacional e um desejo internacional no campo das artes (ou seja, investir a sério, dinheiro e vontade política), pode bem começar a pensar em 2042 (se ainda houver UE e capitais europeias da cultura, claro…)
…coisas da net! Cheguei a este post por causa de uma outra iniciativa dos Cidadãos por Coimbra e só agora reparei que a proposta e a sua discussão já tinham alguns meses. O meu comentário seria válido na altura, é-o muito mais agora…
Pingback: Coimbra, Capital Europeia da Cultura | Cidadãos Por Coimbra